Carmem Mayrink Veiga – o que remete esse nome? Uma socialite. Na certa quem sabe pouco sobre a figura da Sra. Carmen, sabe no mínimo que ela é uma socialite. Uma mulher bem sucedida, rica por herança de família tradicional, e que ocupou e ocupa as chamadas colunas sociais dos jornais. Pessoas assim, são pessoas notadas, e sua presença em eventos não passa sem registro pela mídia. Parte da personalidade da Sra. Mayrink Veiga é o que alguns poderiam chamar de extravagância, ou para outros o capricho por temas que não são do domínio da grande população – pessoas viajadas e que frequentam altas rodas da vida social, sabem que existem regras de convívio social, as quais nem sequer passam pela imaginação do chamado “simples mortal”. Há alguns anos a Sra. Mayrink era titular de uma coluna no jornal “O Dia” do Rio de Janeiro, que justamente tratava do tema: “etiqueta social” – neste canal ela tentava colocar em linguagem simples e acessível dicas de comportamento sobre moda, vestimenta, decoração, e postura à mesa, e em eventos tais como casamento, aniversários, festas na empresa, etc.
Apesar da maioria de nós não sabermos exatamente em que posição ficam à mesa os diversos talheres, copos, taças e pratos, o guardanapo, em que momento exato cada um deva ser usado, e só de imaginar dominar tudo isso, é até tenso para a maioria de nós, há um consenso em forma de concepção geral de todos, que existem regras no mínimo básicas para o comportamento organizacional, ou no mercado de trabalho. Por exemplo: consumir bebidas alcoólicas durante o horário de trabalho – o senso comum, independente de quaisquer regras de uma empresa diria que é incompatível a qualquer profissional sensato, a menos que a profissão dele seja provador numa indústria de bebidas. Mulheres usando roupas muito justas, transparentes, decotadas, excesso de maquiagem, etc. não é visto com bons olhos, e de fato há empresa que estabelece regras comportamentais que restringe o uso até mesmo de sapato de salto fino e alto – no entanto, toda essa descrição de uma mulher sensual, pode ser requisito se ela trabalha numa agência de publicidade de cosmético ou de lingerie, já naquela empresa em que o “salto agulha” é proibido, diferente do glamour de um centro executivo empresarial, funciona uma linha de produção de alimentos, onde o foco é a segurança do trabalhador, e onde aquele tipo de calçado representa um risco de acidente, e em nada contribui para a produção de resultados da Organização.
Nesta breve reflexão, já notamos de imediato, que a regra de comportamento não é realmente algo simples, e não existe uma fórmula fácil e pronta que se ajuste de forma universal a todo campo do labor profissional. De fato, Etiqueta, não é simplesmente saber comer à mesa, em ambiente requintado com uma enorme mesa repleta de prataria e copos de cristais – nem mesmo aquela exatidão de domínio do Comissário de Bordo que sabe minuciosamente a regra sobre quem deve subir à escada na frente: o homem ou a mulher, e se é apropriado ou não cumprimentar uma pessoa do sexo oposto com um ou dois beijos no rosto – ou simplesmente limitar-se a um caloroso aperto de mãos...
Aliás, quando falamos de beijos, aperto de mãos, dentre outros hábitos comuns – tudo isso é variável de uma cultura para outra – o que é correto numa sociedade ou grupo social, em outro é inadmissível. Em algumas culturas em países africanos ou orientais – é comum ver homens andando de mãos dadas pela rua, enquanto que é inadmissível que um homem e uma mulher o façam. A lista de variações comportamentais do certo e do errado é interminável, e repleta de curiosidades sobre o comportamento humano e social.
Ética e Etiqueta diferentes mas muito parecidas
Assim como Ética, etiqueta também depende muito de uma cultura específica – apesar de uma aparente raiz etimológica comum: ética e etiqueta não é a mesma coisa. Quando tratamos de etiqueta estamos tratando de comportamentos sociais em situações específicas – o que fazer, como se portar em determinadas situações. Poderíamos dizer que a forma como você se dirige ao seu chefe no momento em que ele se encontra numa reunião a portas fechadas e você precisa entregar-lhe um recado urgente, a Etiqueta profissional lhe diria que palavras você poderia usar e de que forma você poderia interrompê-lo: interfornando?, ligando para o celular dele? Enviando um sms? Dar uma discreta batida à porta e pedindo licença? Entregar um bilhete escrito? Como se dirigir à esposa de seu chefe quando ela visita o escritório? Deve cumprimentá-la com beijo? Mesmo se você for do sexo masculino? Quando um cliente chega no escritório você deve se levantar para cumprimentá-lo ou deve fazer isto sentado? Isso seria uma deselegância? Que imagem o cliente terá de você dependendo de sua postura neste momento? – estamos tratando aqui de comportamentos que o profissional precisa adotar em situações específicas.
Agora o que dizer se você for um executivo na Organização, e empregar sua noiva como sua secretária? E quem sabe colocar seu irmão na função de tesoureiro de sua Unidade? – bem, essas perguntas não possuem respostas fechadas de certo ou errado, se você não avaliar o contexto. Numa empresa pública isto tem nome: se chama nepotismo. Empregar parentes em serviço público é falto de decoro no exercício da sua função. Já numa empresa familiar, num escritório de contabilidade ou advocacia, por exemplo, de estilo familiar, todos em todas as funções talvez tenham alguma espécie de vínculo famílias e consanguíneo. Esta questão não é meramente a forma de se comportar em uma situação específica, mas aproxima-se de forma mais íntima com o que chamaríamos de principio ou diretriz de determinado grupo, ou em outras palavras isso se chama Ética. A Ética de determinadas organizações não permite que, por exemplo, você trabalhe com parente na mesma empresa, quando isto representar uma relação de subordinação entre você e seu parente; já ter o seu parente trabalhando na empresa, mas alocado e subordinado a uma estrutura diferente da tua, sem uma ligação direta entre vocês talvez seja permitido; por outro lado o simples fato de um candidato num processo seletivo declarar que possui parente naquela empresa, pode lhe custar a oportunidade de ganhar um vaga de trabalho.
Ética e etiquetas não são leis
Tanto a etiqueta, que são comportamentos específicos, quanto a ética, que é uma conduta de procedimentos e comportamentos norteados por princípios e diretrizes da Organização, não devem ser confundidos com leis. A empresa não estabelece leis, mas adota regras comportamentais que visam preservar seus objetivos, sua imagem, e que estão ligados ao elenco de seus valores e sua visão ante o mercado. Muito menos esperamos que a ética, e etiqueta de uma organização devem ser postos ao questionamento, meramente pelo fato de serem diferentes do que é exigido, esperado ou tolerado por outras organizações.
Ética remete a um elenco de comportamentos valorizados por um grupo social específico, que acaba configurando-se em sua identidade como grupo. E isso não estabelece nenhuma relação ao que é certo ou errado, se posto em comparação com outros grupos ou sociedades. Muito menos quando falamos de etiqueta, esperamos que as mesmas se tornem leis, estas pelo contrário, são praticadas como senso comum, estão muito mais associadas ao senso comum e são influenciadas pelo meio ambiente específico da organização, logicamente norteado pelo que é aceitável de forma geral, para aquele seguimento organizacional.
Códigos de Ética não possuem regras de etiqueta
As Organizações realmente se preocupam em zelar por sua imagem e um alinhamento geral de seu corpo de colaboradores e executivos com os valores defendidos por elas. E neste âmbito de interesse por esta imagem e valores, as organizações perceberam a necessidade de clareza para a uniformidade do time, e seu entendimento sobre o que se espera deles, mesmo por que, a movimentação numa empresa, de forma geral é bastante dinâmica, o entra e sai de pessoas num quadro de colaboradores apresenta uma dinâmica intensa, e pessoas que ingressam na Organização precisam de clareza, pois a ética empresarial é muito variante de uma para outra organização. Para atendimento desta necessidade de clareza e uniformidade, se estabelece de forma escrita, o que chamamos de “Código de Ética” onde de forma assertiva são elencados os comportamentos inaceitáveis por parte dos membros da Organização, tais como, por exemplo, o caso já citado de empregar parentes numa relação de subordinação. Outros temas tais como o aceite de brinde de fornecedores, o fornecimento de informações confidenciais e de resultados da Companhia, dentre outros.
Já no caso da etiqueta que são aqueles comportamentos para situações específicas, dificilmente a Organização estará escrevendo princípios e normas a este respeito, muito menos estabelecerá medidas disciplinares para sua infração, mesmo porque onde não existem regras e normas, o comportamento não desejado invariavelmente não será detectado como infração, uma vez que, repetimos, não estão escritos ou estabelecidos. Já com relação a comportamentos contrários ao Código de Ética, para estes sim, são estabelecidas inclusive, medidas corretivas disciplinares que podem inclusive ser na forma de uma demissão por justa causa. E as empresas não somente escrevem Códigos, mas criam o chamado “Termo de Responsabilidade” que é uma declaração explícita de ciência do colaborar a respeito de tais normas e implicações. Tais normas chegam ao conhecimento do colaborador, acompanhado da assinatura deste termo já no processo chamado Integração que ocorre com sua admissão ao quadro.
Afinal, por que preocupar-se com a chamada “etiqueta profissional”?
O fato, porém da ausência ou dispensa de uma formalização tão bem “amarrada” como a do código de ética, para a prática da etiqueta na empresa, de forma nenhuma poderia nos fazer concluir que etiqueta empresarial seria um plus, ou algo para o qual não devamos dispensar igual atenção, quando na verdade, praticar a etiqueta na empresa, possui uma significância tanto quanto sutil, quanto preponderante, se é que queremos preservar nosso emprego, fazer carreira e crescer na vida profissional.
Nenhum de nós, em sã consciência declararíamos trabalhar apenas com o interesse de nos manter, sem ter interesse em ser bem sucedido na nossa carreira.
A mulher que trabalha no escritório de unhas com esmalte descascado, meias-calças avariadas, ou o rapaz que se apresenta numa reunião da Diretoria com jeans surrado, calça super skiny, em plena segunda-feira, não esperarão encontrar em lugar nenhum que tais posturas são infrações, passíveis de perder seu emprego. No entanto, aí está o problema da etiqueta: etiqueta é na verdade sua imagem profissional, e sua imagem “vende” o que você é, e o quanto você está alinhado com os objetivos e seus desafios na Organização.
O trabalho que segue se propõe a uma reflexão fundamentada da questão da etiqueta como ferramenta de desenvolvimento profissional, e o quanto a área de Recursos Humanos está diretamente relacionada a este tema, tendo como sua missão: o cuidado de gente, o desenvolvimento humano, e nos convencer que de fato este assunto não é de somenos importância, mas é sim um tema ao qual toda a seriedade e ciência possível deve ser igualmente direcionada, como devem ser a Ética, e o cumprimento de legislações específica da relação trabalhista.
Afinal, Gestão Estratégica de Pessoas & Negócios é isto: um olhar global sobre a questão de conduzir um negócio, através de pessoas qualificadas e antenadas na missão do crescimento e na geração de valor tanto empresarial quanto pessoal.
- Antônio Sérgio Ferreira Batista
Bibliografia
1. http://www.portaleducacao.com.br/gestao-e-lideranca/artigos/6195/etica-e-etiqueta
2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Carmen_Mayrink_Veiga
3. http://pt.wikipedia.org/wiki/Etiqueta
Esta foi a introdução que escrevi para o Projeto de Fim de Curso, do MBA Gestão Estratégica de Pessoas e Negócios, Unigranrio, 2011/2012. NOta: 8,80
Sérgio Batista